Uma menina querendo brincar

Vem essa moça

Que acorda cedo

Abre ao céu

Com sua trouxa de roupa,

Equilibrada em rodilha

Descendo o caminho de pedra....

Os pés lascados,

Fendas profundas negras.

Que sangram quando lava

E quando anda!

O espelho de seu banheiro

Embaça sua beleza

De tão velho e amarelado

De modo que nunca se vê como é.

A cada olhada, um precipício

A lhe rondar..

Cresceu cedo

Não viu

As meninas de baton

As matinês na praça da Bandeira

O menino bonito da casa do lado

Nem mesmo aqueles

Que lhe amaram de longe.

Seu coração míupe

Via só preço da carne

Da farinha.

Os livros da escola.

Os pratos sujos.

E casa empoeirada.

A hora de dormir.

A vassoura de piaçava.

As conversas cansativas

Dos tios velhos e vencidos

Emparedada

Não sente mais a

Vontade de comer,

De usar uma saia bonita

De ir ao médico

Cuidar dos pés,

De cortar os cabelos de maçaroca.

De passar sabão desses de farmácia.

De dançar, nem que seja

Sozinha.

As unhas nunca viram um esmalte.

Mas os olhos reflete,

Ao contrário do que se pensa,

Uma menina querendo brincar.

Ariano Monteiro
Enviado por Ariano Monteiro em 20/04/2012
Reeditado em 20/04/2012
Código do texto: T3623879