SEMEADURAS.

Plantamos a toda hora, querendo ou não querendo,

sabendo ou não sabendo.

As nossas sementes estão por todo canto,

algumas vistosas, outras caladas, outras escondidas, outras foragidas,

mas que estão, estão.

Pode ser uma sina, um ofício, uma maldição, vai saber,

vamos jogando pelos chãos pedaços do que fomos,

tecos do que cremos, faces do que teimamos ser,

até vértebras do que somos,

gomos estranhos que vivem escapulindo da nossa alma,

sem dar descanso qualquer.

Tem dias que ficamos só esperando a chuva pousar,

como a cálida revoada da nossa primeira paixão.

Quando ela vem, a terra se arreganha e faz seu útero voltar pra vida,

feliz como sempre teimou em ser.

Então vem a calmaria, pra que água possa conversar com as nossas sementes sem pressa, tricotando as suas andanças às nossas soturnas reflexões.

Passado o tempo que se fez lastro, fungo e cicatriz,

começam a vir à tona alguns pequenos filetes, sumo desbravador

que vai se fazendo menina, vai se fazendo moça, vai se fazendo mulher, bela mulher.

Então iremos nos atracar à colheita,

que poderá levar alguns instantes ou toda vida será pouca para concluir o que se fará mandatário,

o que terá de ser.

Então, por certo, teremos a alforria para calar de vez as nossas inquietudes, só pra deixar o nosso suor banhar-se em si mesmo,

indo embora de vez pra dentro de nós mesmos.

E lá ficar para todo o sempre,

até que a próxima semeadura seja parida de dento de nós.

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Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 18/04/2012
Reeditado em 18/04/2012
Código do texto: T3619002
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