MARCAS DE UMA PAIXÃO
Se ao cruzarmos um duro olhar
A pele se eriçar sob o áspero tecido
E meus pensamentos se engravidarem
Com teu doce sorriso torpe;
Direi a mim mesma que nada mais me alucina
Tua ausência já não sangra o verde dos meus olhos
Minha alma traja luto
Vivo a utopia da realidade novelesca.
Se em sonhos tuas carícias me forem tormento
E teu hálito ecoar nos caracóis dos meus cabelos
Serei fria e inatingível.
De ti só te guardo desprezo.
Direi a mim mesma:
Sou feliz
Não necessito da ilusão do travesseiro
Sufoquei teus desejos sob meus desejos
Teu pedaço de prazer já não me faz perder a cabeça.
Mas se algum dia a carne de ti sentir saudade
E meu corpo acordar trajando o cheiro do teu pijama
E se lembranças abrirem uma fenda no duro peito
E se o fogo queimar o lençol da cama;
No ardor da demência gritarei:
Vem... não te demores mais!
Invadas a clausura do meu quarto
Padeço da insanidade da paixão
O cavo doirado quer transbordar alfazemas.