NARCISO - do livro ESPELHOS EM FUGA, de 1989

Meu rosto eterno

em turvas águas

não se revela.

Entre água e olhos

o torvo vento

de mim me expulsa.

Face a esse espelho

tão fugidio

por natureza

não há memória

que reitere

minha origem.

Sou só futuro

traços dispersos.

Não mais me amo.

Antes do antes

paixão perfeita

me enraizava

rios amorosos

e o sortilégio

de ser o Amado.

Hoje só passo.

Meu rosto é Nunca

e o Amado, Exílio.

(...) A eternidade, Narciso,

é um rosto duro de roer.

Do livro ESPELHOS EM FUGA, Editora Objetiva,1989. (Com algumas pequenas modificações).