Casca inútil das horas... (Republicação)
Esther Ribeiro Gomes
‘A vida é uns deveres que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são seis horas: há tempo...
Quando se vê, já é sexta-feira...
Quando se vê, passaram sessenta anos...
Agora é tarde demais para ser reprovado...’
(Mario Quintana)
No relógio de parede, o cuco canta as horas
e me faz lembrar do tempo fugaz
que a vida levou embora!
Corri atrás do tempo e ele passou,
corri atrás do sonho que não se realizou,
segui a ilusão, mas o relógio não parou...
Agora vejo minha imagem no espelho
e não me reconheço mais...
O cuco cantou, o relógio disparou,
os anos passaram céleres demais
e a casca inútil das horas ficou para trás...
Ah, se o tempo pudesse voltar,
com Quintana eu iria versejar
e seguiria despreocupada pela vida
a deixar pelo caminho as ilusões perdidas...
O tempo é muito mais que um cuco a cantar!
Ah, se pudesse voltar, me desfaria das quinquilharias,
amaria mais, viveria minhas doces fantasias,
jogaria fora a casca dourada e inútil das horas
e sorveria o cálice da alegria!