Não tenho gavetas...

Não tenho gavetas...

Tenho memórias

E em minhas memórias

tudo guardado...

O beijo não dado

E aquele recebido

A fala perdida

O vento tocado

Um sentido postado

E o coração partido

A mão que beijei

E a que a mim acenou

Uma voz que ouvi

E a que se calou

Uma aparência perdida

E a experiência que de nada adiantou...

O Romeu de um Feliz Ano Velho qualquer...

A quantia de gente dos Éramos seis

Éramos oito, éramos vários

E todos presentes

mas que agora são apenas participantes

de mundos distantes...

Os víveres de uma subsistência

As letras de um vício

Os jornais espalhados

As imagens efêmeras

As folhagens das tardes amarelas

As cartas de uma adolescência efusiva

O frio cortante de uma manhã sulina

E o calor escaldante de uma tarde sem rumo...

As colisões, os acertos e desacertos...

As canções, os modismos e modernismos...

Os diálogos, as discussões,

os entendimentos, os desembaraços...

A falta de jeito nos momentos

mais impróprios...

As amizades conquistadas e aquelas que se pensou...

O amigo que chegou e aquele que por não ser

nem ficou...

As palavras ditas sem pensar...

E o silêncio que muitas vezes falou por mim...

Tudo não em gavetas...

Mas perdido em memórias...

E que numa noite se acha

assim, de repente...

(Adriana Luz)

Adriana Luz
Enviado por Adriana Luz em 28/01/2007
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