Não tenho gavetas...
Não tenho gavetas...
Tenho memórias
E em minhas memórias
tudo guardado...
O beijo não dado
E aquele recebido
A fala perdida
O vento tocado
Um sentido postado
E o coração partido
A mão que beijei
E a que a mim acenou
Uma voz que ouvi
E a que se calou
Uma aparência perdida
E a experiência que de nada adiantou...
O Romeu de um Feliz Ano Velho qualquer...
A quantia de gente dos Éramos seis
Éramos oito, éramos vários
E todos presentes
mas que agora são apenas participantes
de mundos distantes...
Os víveres de uma subsistência
As letras de um vício
Os jornais espalhados
As imagens efêmeras
As folhagens das tardes amarelas
As cartas de uma adolescência efusiva
O frio cortante de uma manhã sulina
E o calor escaldante de uma tarde sem rumo...
As colisões, os acertos e desacertos...
As canções, os modismos e modernismos...
Os diálogos, as discussões,
os entendimentos, os desembaraços...
A falta de jeito nos momentos
mais impróprios...
As amizades conquistadas e aquelas que se pensou...
O amigo que chegou e aquele que por não ser
nem ficou...
As palavras ditas sem pensar...
E o silêncio que muitas vezes falou por mim...
Tudo não em gavetas...
Mas perdido em memórias...
E que numa noite se acha
assim, de repente...
(Adriana Luz)