Terra mater

Andei de estrela em estrela

em busca de um lugar

que pudesse acomodar

o meu já cansado corpo.

No Centauro, fui a Alfa.

Uma escura, uma clara...

Imaginei se ali

não haveria um planeta

com as condições da Terra

(as boas) para a vida

e se não iria ali

descansar o meu sofrer

e gozar o meu amor

contigo, e contigo, contigo também.

Havia esse lugar.

Florestas, pântanos, aves e aves

e aves e mais animais.

Mas dava para mais uns.

Vi, gostei, reservei o lugar...

e me fui.

Mais 5 anos-luz. Fui a Sirius.

A claridade da estrela

- que também não está só -

deixou-me um pouco ofuscado.

Sua irmã,

uma anã,

tinha maior atração

num equilíbrio brilhante.

Fui além

E além fui.

Esqueci Einstein e sua teoria,

fiquei só na relatividade.

Fui e vim como quis.

Nada de tempo

- ou de velocidade.

Pulei a Orion.

No seu cinturão, sua graça.

Ali estavam as três

que aprendi a admirar:

três Marias, três irmãs,

unidas no olhar da Terra,

embora ali tão distantes.

Maria da Luz,

Maria Clara,

Maria do Céu,

ou outras quaisquer Marias.

Em qual de seus quentes seios

repousarei o meu corpo?

Na dúvida, prossegui.

Será que em Aldebarã

encontrarei tal lugar?

Ou mais além, em Capela?

Não; ali não.

Os gêmeos Castor e Polux

quiseram apresentar

a beleza diferente

das outras já encontradas.

No céu, talvez...

- mas para ficar?

...segui.

Quem sabe lá em Antares?

Posição perigosa, a sua.

A vermelha estrela está

no corpo do Escorpião.

Não vou confiar meu corpo

e pensá-lo envenenado

pelo próprio guardião.

Vou mais ao sul... mais além

pra no Cruzeiro encontrar

- não uma estrela -

uma nuvem.

Fui ver de perto...

Qual nuvem?

Milhões ali estavam

e não pude decidir

em qual estrela ficar.

Ó belezas!

Ó luzes!

Encantais os nossos olhos

mas o descanso do corpo,

o meu já cansado corpo,

só é completo na Terra.

Sim, essa Terra tão sofrida,

sangrada (retiram seu negro sangue),

maltratada, espoliada,

é nessa Terra sagrada

- ela nos alimenta - amamenta -

que eu repousarei.