Você é do tempo do cinema mudo? Foi a pergunta do jovem após a noticia da premiação de “O Artista”, de Michel Hazanavicious, francês, com o Oscar, em fevereiro, último. Sim, de certo modo, respondi. Na verdade, comecei a ver filmes na década de trinta, mas o cinema começou a falar na década de vinte.
Nessa época os cinemas Politeama, Odeon e Guarani já exibiam filmes falados, mas eu ia mesmo era ao Cine Manaus, do Colégio Dom Bosco, sessão da tarde, aos domingos, para a meninada. Quem assistisse a missa, aluno ou não, eu não era, ganhava uma entrada. Creio que foi a época mais religiosa da minha vida. Os filmes eram comédias de Buster Keaton, Harold Lloyd, Chaplin e naturalmente muito western, mudos. Nas sessões da noite era a vez dos dramalhões italianos.
Muitos anos depois, já no Rio de Janeiro, assisti no Museu de Arte Moderna, alguns festivais (históricos) de cinema americano, alemão, inglês, francês e naturalmente seus primeiros filmes mudos. Até o que sobrou de Lumière e Méliès. Creio que o cinema foi a arte do século XX. Vi muitos filmes, gosto muito de cinema, mas não me considero “cinéfilo”, aquele que sabe tudo sobre os filmes que viu; não, sou “cinemeiro”, aquele que vê o filme, tempos depois identifica os que gostou, mas não sabe de cor o nome de diretores, atores, trilhas sonoras ou o escanbau.
A principal coisa que me ocorre depois de ver “O Artista” é que parece que o público do cinema mudo era mais concentrado, capaz de ver e não de ler o filme como fazemos, hoje os que não entendem a língua que falam os personagens. Entender os gestos, as expressões faciais – ouvir o silêncio. Não, não me entenda mal, não quero que o cinema volte a ser mudo, mas que não fale tanto como “A dama de Ferro”, só para mostrar que a americana Merryl Streep pode falar inglês com o sotaque da Margareth Thatcher. Falar por imagens. Só isso.