TRATADO SOBRE TEU CORPO
Imagino teu corpo
e refaço o Tratado de Tordesilhas.
Entre continente e ilhas,
procuro meu porto.
Percorro do queixo ao umbigo:
à direita sou português,
à esquerda sou espanhol;
um seio chamo de Inês,
o outro chamo de amigo;
o fado me afasta do cais,
as castanholas me apontam o sol.
Se prudente, rumaria para o leste.
Meu coração navegador,
no entanto, remete-me ao sul.
Terras não desbravadas
despertam sereias-sementes de dor
e surge da bruma o barco que investe,
como um dragão envolto no azul,
a iluminar suaves enseadas.
Aventureiro, não quero apenas
deter-me na sublime visão
das matas, dos montes e das grutas.
Dispenso as carícias serenas.
Quero antes a volúpia da invasão
suavizada por doces permutas.
Relutante, cruzo a linha do Equador
e me reconheço num tempo ancestral,
misto de prazer e sofrimento.
O corpo dissociado da alma.
O espaço dividido entre o bem e o mal.
A desordem do Universo em um momento,
o destino suspenso num ato de amor
e a turbulência a prenunciar, enfim, a calma.
Imagino teu corpo
e refaço o Tratado de Tordesilhas.
Entre continente e ilhas,
procuro meu porto.
Percorro do queixo ao umbigo:
à direita sou português,
à esquerda sou espanhol;
um seio chamo de Inês,
o outro chamo de amigo;
o fado me afasta do cais,
as castanholas me apontam o sol.
Se prudente, rumaria para o leste.
Meu coração navegador,
no entanto, remete-me ao sul.
Terras não desbravadas
despertam sereias-sementes de dor
e surge da bruma o barco que investe,
como um dragão envolto no azul,
a iluminar suaves enseadas.
Aventureiro, não quero apenas
deter-me na sublime visão
das matas, dos montes e das grutas.
Dispenso as carícias serenas.
Quero antes a volúpia da invasão
suavizada por doces permutas.
Relutante, cruzo a linha do Equador
e me reconheço num tempo ancestral,
misto de prazer e sofrimento.
O corpo dissociado da alma.
O espaço dividido entre o bem e o mal.
A desordem do Universo em um momento,
o destino suspenso num ato de amor
e a turbulência a prenunciar, enfim, a calma.