Cadáver Vertical

Lembra de quando brincávamos de nos surpreender?

Lembro-me daquele domingo: deitados sobre a relva

Tentávamos dar formas às nuvens acima de nós

Enquanto deixávamos de lado nossas nuvens

Negras.

Consigo me recordar da nuvem em forma de pau

Da nuvem em forma de coturno de skinhead

Das nuvens que se juntavam, tapando um buraco

De céu azul, e que as formas ao centro dele

Pareciam de cobra e de águia, digladiando,

Até que o azul se foi. E só restou o cinza

Carregado.

Lembra de quando a brincadeira perdeu a graça?

Que o surpreender se tornou um holograma que,

Além de não podermos tocar, passamos também

A sequer poder ver; lembra?

Lembra de quando viramos uma lembrança de nós?

Dessas meio apagadas, trabalhadas em sépia

Emolduradas num Polaroid - só pra ficarem bonitas,

Quando não passam de signos que nos causam

Apatia?

Eu lembro

Que foi tudo tão bonito!

Eu lembro

Lembro o que foi amar!

Eu lembro

E nada sinto.

Porque devo ter morrido

E esquecido de deitar.

16/04/2012 - 18h53m

Rafael P Abreu
Enviado por Rafael P Abreu em 16/04/2012
Reeditado em 16/04/2012
Código do texto: T3616409
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