Cadáver Vertical
Lembra de quando brincávamos de nos surpreender?
Lembro-me daquele domingo: deitados sobre a relva
Tentávamos dar formas às nuvens acima de nós
Enquanto deixávamos de lado nossas nuvens
Negras.
Consigo me recordar da nuvem em forma de pau
Da nuvem em forma de coturno de skinhead
Das nuvens que se juntavam, tapando um buraco
De céu azul, e que as formas ao centro dele
Pareciam de cobra e de águia, digladiando,
Até que o azul se foi. E só restou o cinza
Carregado.
Lembra de quando a brincadeira perdeu a graça?
Que o surpreender se tornou um holograma que,
Além de não podermos tocar, passamos também
A sequer poder ver; lembra?
Lembra de quando viramos uma lembrança de nós?
Dessas meio apagadas, trabalhadas em sépia
Emolduradas num Polaroid - só pra ficarem bonitas,
Quando não passam de signos que nos causam
Apatia?
Eu lembro
Que foi tudo tão bonito!
Eu lembro
Lembro o que foi amar!
Eu lembro
E nada sinto.
Porque devo ter morrido
E esquecido de deitar.
16/04/2012 - 18h53m