Ivone

Sinto-me fraco

Jogado de lado

Um dado que foi descartado

E não tem mais nenhum valor

Ninguém me dá nada

Também eu não quero que dê

Julgam-me pelo que sou

E não pelo que sou capaz de ser

O meu passado é minha sombra

E o meu presente um reflexo de um rosto no espelho

Que com o tempo trataram de esquecer

Tão fragilizado e perdido

Pergunto-me aflito, como pude me levar tão depressa?

Doente foi secando

Ossos e raízes

Nervos e músculos

Corroendo-me, remoendo, junto à aflição

Da dor de estar tão sozinho

Seguindo nesse caminho

Já no findar de uma caminhada

E o que eu fiz a ninguém interessa

As noites que perdi

Os sonos que embalei

As vezes que suei, e chorei, por quem hoje me ignora

Erros cometi

Nunca disse que seria perfeito

Mas como um humano feito de barro

Sou capaz de rachar a todo o momento

Não prometi, nunca nada a ninguém

Por isso não posso ser cobrado a todo tempo

Mas isso não importa

O esquecimento prevalece

E o que fui para muitos não valeu de nada

Mas para mim, valeu

Não deixei de ser eu mesmo

Embora, duvidei muitas vezes nessa jornada

Sei que vivi

Mesmo estando hoje cansado

Sem forças

Incapaz de enxergar

Sei que na minha alma ainda há uma força

E com ela eu verei

O que meus olhos não veem mais

E terei de volta a esperança

De um dia ao deitar

Ter minha paz

Pois há certeza

Que como uma chama acesa

Que um dia se apagará

Antes que se apague

Ela não deixará de brilhar

Em memória de Ivone da Silva Valle

Ingrid Vale
Enviado por Ingrid Vale em 16/04/2012
Código do texto: T3616192
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