Ivone
Sinto-me fraco
Jogado de lado
Um dado que foi descartado
E não tem mais nenhum valor
Ninguém me dá nada
Também eu não quero que dê
Julgam-me pelo que sou
E não pelo que sou capaz de ser
O meu passado é minha sombra
E o meu presente um reflexo de um rosto no espelho
Que com o tempo trataram de esquecer
Tão fragilizado e perdido
Pergunto-me aflito, como pude me levar tão depressa?
Doente foi secando
Ossos e raízes
Nervos e músculos
Corroendo-me, remoendo, junto à aflição
Da dor de estar tão sozinho
Seguindo nesse caminho
Já no findar de uma caminhada
E o que eu fiz a ninguém interessa
As noites que perdi
Os sonos que embalei
As vezes que suei, e chorei, por quem hoje me ignora
Erros cometi
Nunca disse que seria perfeito
Mas como um humano feito de barro
Sou capaz de rachar a todo o momento
Não prometi, nunca nada a ninguém
Por isso não posso ser cobrado a todo tempo
Mas isso não importa
O esquecimento prevalece
E o que fui para muitos não valeu de nada
Mas para mim, valeu
Não deixei de ser eu mesmo
Embora, duvidei muitas vezes nessa jornada
Sei que vivi
Mesmo estando hoje cansado
Sem forças
Incapaz de enxergar
Sei que na minha alma ainda há uma força
E com ela eu verei
O que meus olhos não veem mais
E terei de volta a esperança
De um dia ao deitar
Ter minha paz
Pois há certeza
Que como uma chama acesa
Que um dia se apagará
Antes que se apague
Ela não deixará de brilhar
Em memória de Ivone da Silva Valle