"APRENDIZ DE AZARADO"
Aprendiz de azarado
Valdemiro
Trabalhei a semana inteira
Como servente de pedreiro,
E pagando quatro lotações
Dentro do Rio de Janeiro.
Entrei na fila do pagamento
Me pagaram em derradeiro,
Quando eu voltava pra casa
No alto da rua do jangadeiro,
Dois caras com três oitão
Carregaram o meu dinheiro.
Cheguei à casa a meia noite
Cansado de tanto caminhar,
Contei para a minha Maria
Que não quis saber acreditar,
Disse que eu gastei a grana
Foi com as piranhas do lugar.
Tirou o resto daquela noite
Para me encher e azucrinar,
Quando bateu às cinco horas
Obrigou o otário a levantar.
Vá levantando vagabundo
Para consertar este telhado,
Pois mesmo com chuva fina
Aqui dentro fica molhado.
Dei um duro lavando roupa
Para ganhar o meu trocado,
Eu não vou cozinhar o rango
Se você permanecer deitado,
Eu não sustento vagabundo,
Tão preguiçoso e descarado.
Levantei por que não dava,
Para segurar aquele papo,
Carreguei uma escada velha
Encostei lá no meu barraco.
Eu fui subindo pela escada
Pra tapar o maldito buraco,
Em baixo a dona Ana Maria
Foi falando e enchendo o saco,
Encostou a bunda na escada,
Eu despenquei virei um caco
Quebrei a perna e um braço,
E também quatro costelas!
A nega ainda resmungava
Que a culpa não era dela!
Entrei em uma ambulância
Já cai numa outra esparrela,
O chofer tava no maior fogo
Rolou no barranco com ela;
Quebrou minha outra perna
Despencou minha espinhela.
Fiquei um ano bem engessado
Quase fui parar na sepultura.
Dona Maria estava com outro
Um bandidão de pele escura,
O barraco todo bem renovado
Tinha até uma nova pintura,
Tirei o meu time de campo
Virei malandro por amargura,
Arrochei um trouxa na esquina
Mas o trouxa era um cana dura.
Vim morar aqui no xilindró
To passando um mau bocado,
Virei o maior saco de pancada
Para treinamento de soldado,
Hoje puseram na minha cela
Um maluco que é um tarado,
Esta noite não posso dormir
Preciso me manter acordado,
Já me puseram um apelido
De um aprendiz de azarado
Fim
Trovador