Indefinível
O corpo feminino da poesia
É apenas imaginário
E ao toque refratário
A poesia não reconhece nas palmas das mãos
O apelo dos seios
Não vê sob o vestido
Um par de coxas
O corpo feminino da poesia é pura ambiguidade
Uma parte da outra tem saudade
O corpo da poesia no barro não foi soprado
Mas sopro é
E nem nos poetas habita
O corpo da poesia não será enterrado
Ele é o vento que sopra nas folhas dos arvoredos
Os segredos
O fogo que a terra incendeia e purifica
O corpo da poesia é quando o sol faz amanhecer o dia
E quando o abandona e engana a noite em agonia
Ele se esgueira entre as fendas da madrugada
Valsa sobre a Terra enluarada
E nada vê disto que nos embriaga e entontece
Um corpo sem anatomia
Nem o alcança o desdobrar da filosofia
Paz e guerra
Água e fogo
Em um só brinde funde castidade e heresia
O indefinível corpo da poesia