Uma criança morre
Neste momento uma criança morre
sem alarido
como prova de sua morte
somente o choro de uma mãe
A manhã grita azuis em meus ouvidos
Ouço poemas
que berram em mim
palavras que ficam como uma mancha
Meus olhos não vêem a criança
morta
O mundo é vasto e morre-se de tudo
e vive-se por nada
fingi-se que se vive
A fome,
a miséria,
a podridão da vida,
o delírio que se move em meio ao pus
Nunca mais lhe espancarão
Nunca mais o gosto amargo da bile na boca
Nem um lampejo sequer da dor que que só calava com o sono
na rede
É estranho como de um segundo para outro a gente muda de mundo
Ligando uma vida na outra?
Assim,
na vida parca
dos teus tão poucos anos
transpondo-se da sala ao quarto
também se morre
de trizteza,
de miséria,
de inaniçao,
de esgotamento
deste jeito bom de criança
que os anjos do céu também têm
nesta alegria infindável,
que apesar da dor,
via-se inteira no teu sorriso
de pipa no céu,
de bola no gol,
de pião na roda
Agora o beijo de Sirlene acabou
A tua voz se fez poema
a dar piruetas no branco do papel
longe de mim e de todos
que pintaremos de azul o teu céu
e a tua poesia