Uma visita sua (II)

Uma visita sua

é um copo de água fresca,

é a água e o copo

e a mão que segura o copo.

Em dias que eu não tiver mais copo

faz as mãos em concha

que te darei água fresca.

Em dias que eu não tiver mais água

faz as mãos em flor

eu saberei conjurar a água.

Uma visita sua

é em si um copo de água fresca.

A tua ausência

é um leito seco de riacho.

Barro duro e rachado,

ossos encrustados no chão.

É as margens ásperas dos meus lábios,

os sulcos vazios, palavras num vão.

Eu rôo a tua ausência

até sobrar só um pitoco.

Até restar só o caroço.

Faz falta a sua visita

como um rio de água fresca.