Um dia vou esquecer do amor
a dor, a cor, o cheiro, o sabor,
o ardor primeiro do que for...
um dia vou esquecer que amou
seja quem for que já não é mais
nem jamais vai ser quem amou
mais do que na efêmera chama
que se apagou...
Um dia vou esquecer a forma,
seu nome, seu rosto, a fome,
o gosto de uma sua lembrança,
as juras, a doença sem cura
que é esse amor sem esperança,
essa tortura, essa fuga, essa procura,
essa distância que nenhum olhar alcança...
Só não vou esquecer em nenhum dia
da palavra que cria alguma poesia
que canta o que na razão desencanta,
que imagina essa magia e se encontra
mais próxima do que toda a distância
mais concreta do que inconstância
e mais certa do que a certeza
mais incerta que não tenho...