A ARTE DE ME PERDER

a arte de me perder é arte velha.

a arte de me perder não é arte trabalhada.

a arte de me perder independe de minha vontade.

trago dos mais remotos antepassados, a arte de me perder.

velejo solitário pelas vias de meu corpo

em busca de respostas, para a arte de me perder.

caminho perdido pêlos caminhos escuros do indevassável

na esperança de desvendar a arte de me perder.

a arte de me perder é indecifrável,

pela simples razão de ser uma razão perdida.

é grande a convicção de que sempre caminharei pêlos meus dias,

imerso nos vendavais desta incompreensão,

porque é irreversível a arte de me perder.

a arte de me perder é inevitável.

dela afluem os mais tétricos fantasmas

que me perseguem desvairadamente,

camuflando os planos e as pretensões empreendidas.

a arte de me perder às vezes parece que foge.

mas ela sempre vem.

hoje exercito novamente a arte de me perder.

ela me vem forte e com extrema violência

depois da mais profunda calmaria.

e nela eu paro agora.

dispo-me da esperança que sempre me motivou

para desativar a arte de me perder.

ela é soberana. é a última manifestação que me vem.

pelo que se impôs até então, ela deve permanecer.

pois que fique então, o estigma que me acompanha.

não olvides ao choro, que o choro é livre.

mas o choro não altera o meu curso, por mais que eu chore.

fique para sempre e deita em mim raízes;

cubra-me com a impertinácia e com a vastidão de seu manto

até que eu me transforme e cresça

nesta perdida arte de incompreender o mundo.