ELAS JÁ NÃO MANDAM FLORES...

havia um copo de chope,

pois não havia jarra.

de dentro dele,

flores vermelhas, um botão.

uma veio com amor;

as outras,

colocadas com muito carinho,

não com menos amor.

um perfume de jaspe

tomava a sala,

hoje inóspita.

um botão se abriu

enquanto lhe restou a seiva.

as flores murcharam

e não voltaram mais.

da parede, observa hirto,

absorto, o poeta drummond,

pedindo a paz das estepes.

o poeta santana

canta, num verso lívido

sua ode ao próximo dia:

ontem, hoje, amanhã...

o kaquende jorra sua água;

o vento sopra, conduzindo a massa polar...

e o copo de chope,

só o copo de chope,

permanece frio, na janela,

vazio e sombrio,

porque elas já não mandam flores.