Poema em Sol Maior
Calma, seja paciente!
Aquiete o ânimo agitado.
Abandone o incômodo que agora sente.
A manhã incandesce feito lava de vulcão inflamado.
O mínimo esforço aquece ainda mais o coração ardente.
O clima acima do vermelho, no topo, quente, muito abafado.
Brota, na pele ensalmourada, lágrima de suor esvaecente.
Permito-me um grito neste vácuo escaldante.
Há de ser um berro seco neutro calado, petrificado, sólido.
Um uivo sem cor, gelado e branco, como branca
a noite de Dostoieviski ou a cegueira de Saramago.
Recolho-me em meditação qual defunto bem morrido,
sem lamento, a face serena, a vida entregue sem condição,
cônscio e desobrigado do dever descumprido.
O insuportável passa, segue atribulado ao encontro de outra aflição.
Ascenda uma luz, desde que fria, abundande de clareação.
Desentristeça meu canteiro descolorido no sol polar do dia.
Traga-me a lua alegre, vistosa, suntuosa e cheia de verão.
Rogue a ninguém uma prece e ofereça aos inimigos, ainda que tardia.