OS ÓS DOS COPOS NA MESA
No Ó marcado
sobre a mesa
havia um copo
com gelo, uísque e um cadinho de guaraná
onde bebi num só gole
a solidão de quando o dia seguinte era só uma tristeza
imensa, a contar pelos ÓS marcados sobre a mesa da sala de estar.
Um porre de menino
escasso em brincadeiras
com mãos meladas com a baboseira da pressa
suada pelos corpos numa digital sem infância
quando a ilusão do dia morreu claro,
apesar dos cabelos escuros da lua,
incontáveis chumaços de ÓS em caracóis repensando memórias.
No cheiro da saudade,
a bossa-nova
juntou-nos pianinho, mais brancos que escuros,
casadinhos, por mais que pareçamos antagônicos,
juntinhos combinando as vozes caladinhas
e a vez, quase muda, de falarmos à sós e bem quietinhos
entre os presentes, todo o passado
contado pelos ÓS das marcas dos copos sobre a mesa
sem mais gelo, sem mais uísque, sem mais guaraná,
sem mais o temor por solidão,
no mesmo lugar onde o fardo da tristeza despencou
de lágrima ausente, agora descansada, na sala de estar.
No fim da rua há uma festa,
uma nova ciranda de ÓS e copos rodados;
enquanto nos bebemos tontos
na felicidade que cantiga!