Não à velhice
Haverá um tempo em que me perceberei velho.
Não será coisa de me deixar satisfeito.
Os sinais de sua chegada já são bastante visíveis:
A saudade dos tempos passados;
Dos amores tidos e vividos e perdidos;
Dos amigos, das pessoas que conheci;
Dos lugares que visitei;
Das cidades onde morei;
O espelho, as fotografias, o tempo estão a me mostrar,
Como fui, como sou e, consequentemente, como serei.
Os filhos, os netos, a perda dos entes queridos de mais vivência,
São marcas do tempo.
Ela é uma certeza, eu sei.
A única verdade verdadeira, sem falseamento.
Não me sentirei sábio pela sua aproximação,
Ao contrário, serei um impotente, um inútil.
Ela é vizinha da morte, sua cúmplice. Sua amada derradeira.
Não quero ser eterno, mas gostaria de viver eternamente,
Mesmo que apenas na lembrança,
Como vivem os heróis, os poetas, os artistas.
Não quero fazer parte do crepúsculo, do outono, do reveillon.
Quero ser semente latente,
Sempre a espera do momento mágico,
Para romper o torrão da terra úmida
E alçar vôo em busca do azul infinito do céu.
Para lá, viver eternamente!