QUEBRADO SILÊNCIO

Se por tudo hoje não fosse sábado,

o sempre sábado das algaravias

nos bares,

do ronco dos carros bêbedos,

dos gatos noturnos nos telhados,

dos filhos montados nas costas,

dos netos choramingando jogos,

dos segredos ao ouvido das amadas.

Se tudo não fosse pelo sábado,

poesia encolhida,

política entre / linhas,

reticências, sussurros, afagos,

naus navegadas sem sono

sobre lençóis,

o aguardo das esposas não

ruminaria o domingo.

Se, contudo, não fosse o sábado,

seria urgente dançar sempre

sobre os domingos vagos,

vagarosas cortinas ao vento,

tímidas horas de ouvir silêncios.

Espera-se um monge para

o dia seguinte?

– Do livro OVO DE COLOMBO. Porto Alegre: Alcance, 2005, p. 90.

http://www.recantodasletras.com.br/poesias/35931