Os ventos que têm mais raça.
Sou teimoso pra dedéu,
envergo mas não quebro,
resisto até depois do limite,
sou assim desde sempre,
ranheta toda vida.
É meu jeito, minha sina, minha trilha, minha lida,
só sossego quando tenho o horizonte nas mãos,
só relaxo quando o suor parar de escorrer pelas encostas da pele,
só descanso quando cada osso parar de latir, de latejar.
Desde moleque decanto essa partitura,
desde moleque busco energias pra não fugir do fogo,
desde moleque este é o meu palco, meu fardo, meu esteio,
só descanso quando o tempo mandar descer minhas cortinas de vez.
Podia ser mais fácil, podiam ter atalhos, mas não,
caminhos íngremes clamam mais alto pelo gozo,
vozes de longe conseguem gritar mais alto, por certo,
ventos que sopram transversos têm mais flor, têm mais sabor,
tëm mais unhas, têm mais raça, tem mais crosta.
Um dia talvez perca esse viço, troque de cabresto, mude de recheio,
por certo a vida decantará esse sangue pra fazê-lo menos voraz,
mas enquanto este mar não vier, fico ancorado nessa busca sem trégua, sem perdâo, sem alforria,
assim começo cada novo cada dia como se tivesse sido parido naquele
instante.
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