Tambores da poesia

Ao longe ouço os sussurros dos tambores

Que me perguntam em voz rarefeita

As palavras podem ser vazias?

Será que deliro? O silêncio me atormenta?

Os tambores insistem em seu rufar

As palavras podem ser ocas?

Desespero-me por saber seu sentido.

Nada eu falo ainda que nada calar é preciso.

Os tambores chegam mais perto vibrantes

marcando livre sua imponente cadência

As palavras podem envelhecer?

Pouco que digo, menos que pouco se aproveita.

A resposta é conhecida e muito antiga

Aos sábios a chave deve caber

Desde sempre se perguntam,

classificam e fazem esquemas.

Fecho-me no meu quarto e tranco as janelas

Sozinho escondo-me dos terríveis tambores

Mas estes estacionam cá na sala

As palavras de que são feitas?

Às vezes as desenho inventando-lhes cores

Outras vezes visto lhes roupagens novas

Noutras subverto até mesmo suas raízes

De um garranchinho faço esboço e letra.

Mas ouçam, não sei do que são feitas.

Se é que os tem, se são doces

se são amargos seus estranhos recheios.

Muitas são as suas múltiplas facetas.

Os tambores retumbantes já no criado mudo

A batida é tão alta que o coração arrepia

Fazem essa última misteriosa pergunta

As palavras metamorfoseam-se na poesia?

Declarei em minha vacilante agonia

Não sei se são sons, se são signos

Duvido se o vivo pensar existiria

Sem adivinhar os seus claros enigmas.

Gilberto Ricardi
Enviado por Gilberto Ricardi em 02/04/2012
Reeditado em 17/10/2012
Código do texto: T3591060
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