Tambores da poesia
Ao longe ouço os sussurros dos tambores
Que me perguntam em voz rarefeita
As palavras podem ser vazias?
Será que deliro? O silêncio me atormenta?
Os tambores insistem em seu rufar
As palavras podem ser ocas?
Desespero-me por saber seu sentido.
Nada eu falo ainda que nada calar é preciso.
Os tambores chegam mais perto vibrantes
marcando livre sua imponente cadência
As palavras podem envelhecer?
Pouco que digo, menos que pouco se aproveita.
A resposta é conhecida e muito antiga
Aos sábios a chave deve caber
Desde sempre se perguntam,
classificam e fazem esquemas.
Fecho-me no meu quarto e tranco as janelas
Sozinho escondo-me dos terríveis tambores
Mas estes estacionam cá na sala
As palavras de que são feitas?
Às vezes as desenho inventando-lhes cores
Outras vezes visto lhes roupagens novas
Noutras subverto até mesmo suas raízes
De um garranchinho faço esboço e letra.
Mas ouçam, não sei do que são feitas.
Se é que os tem, se são doces
se são amargos seus estranhos recheios.
Muitas são as suas múltiplas facetas.
Os tambores retumbantes já no criado mudo
A batida é tão alta que o coração arrepia
Fazem essa última misteriosa pergunta
As palavras metamorfoseam-se na poesia?
Declarei em minha vacilante agonia
Não sei se são sons, se são signos
Duvido se o vivo pensar existiria
Sem adivinhar os seus claros enigmas.