Sonho de menina

Vejo-me menina

No topo da escada

Fazendo pirraça

Pedindo atenção.

Volto no tempo

Na infância

E quase posso

Sentir o cheiro

Dos bolinhos de chuva.

Saudades da infância

E dos sonhos nela contidos!

Tempos remotos

Sonhos desfeitos

Como suspiro de padaria.

Brigo com meus pensamentos

Ora conexos,

Ora sem conexão alguma.

Busco respostas concretas

Mas como as posso querer

Se são feitas a partir dos sonhos?

Trago o bem em minh'alma.

Contudo, nem sempre

Ele retorna para mim.

Trago sorrisos, lágrimas

Pulos, angústias escondidas através do olhar.

Poucos sabem diferenciar-me.

Talvez porque sejam poucos

Os que deixo adentrar em meus pensamentos.

Saio pela manhã

Já depois de muito pensar.

Há dias tranquilos.

Há dias em que a alma

Busca voltar para a cama.

Ora embelezo-me,

Tentando rebuscar as angústias.

Ora as deixo à mostra

Para quem quiser vê-las.

Faço do corpo

Recanto do conhecimento.

Faço d'alma

A eterna morada dos sonhos.

Saltito como quando aos quatro anos.

Mas, compreendo que tal saltitar

Não pode ser concreto, real.

Sorrio sozinha, medito.

Deixo as lágrimas rolarem

Enquanto me banho,

Depois e um longo dia.

Faço delas, as lágrimas,

A válvula de escape

Para que eu não exploda ou enlouqueça.

Esqueço-me das coisas

Como ancião quando retorna à idade pequenina.

Anoto quase tudo

E quando não anoto...

Ah!... Era o que mais precisava lembrar!...

Porém, há momentos

Que mesmo sem serem anotados

Não me saem da memória.

O barulho da Kombi

Levando de vez uma das minhas paixões.

A última conversa consciente

Desta paixão que se foi.

A perda da amiga.

O enterro das ilusões.

A vida se incumbe de encaixar

Pessoas, momentos e coisas

Para que possamos fluir.

Um fluido que nos move as células

Que faz com que cresçamos, dia após dia...

Tombo após tombo.

Somos eternos transeuntes.

Somos viajantes solitários

Vagando ora pelas esquinas do mundo

Ora pelas esquinas de nós mesmos.

Embebedamos nossos pensamentos

Com os mais fortes etílicos

Afim de esquecermos

Que não passamos de seres rodeados pelo passado.

Vivemos do passado

E é ele quem nos faz querer voar

Seja para voltar às doces lembranças

Escritas e esquecidas no diário da menina

Seja afim de consertarmos o que já erramos.

Afinal, a vida, em seus tropeços

Faz-se sábia e contínua

Num eterno vaguear de almas

Em busca do belo e pitoresco.

Do palpável e, ao mesmo tempo, adocicado

Ato de abrir e fechar os olhos,

Manhã após manhã.

Enquanto nos for permitido fazê-lo...

HELOISA ARMANNI
Enviado por HELOISA ARMANNI em 02/04/2012
Código do texto: T3589996
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