A ILHA DO SEMIDEUS

Eu sou um naufrago
Fruto de um automotim
Abandonado por ser ruim
Numa ilha chinfrim
No meio do mar sem fim
Eu sou um naufrago sim.
Não dá pra viver em mim
Nessa vida que existe assim
De um jeito insólito e súbito
Nessa ilha atroz que sou
Onde não corre água doce
Não tem coqueiros, nem sombra
Nem animais, nada que satisfaça.
Nessa ilha existe apenas um punhado
De terra infértil perdido no mar sem fim
No mar a mais que não corre em mim
Onde barcos e todas as naus naufragam
Onde ondas e sondas não deságuam
Aonde mensagens em garrafas não chegam
Onde não sobrevoa nenhum pássaro sequer
Aonde vou, onde vivo sem amor...
Onde vivo a esmo, com esterco e sem fé
Sob vulto incólume, de pé e absoluto.
Em ser o soluto do meu ser.


 
ZARONDY, Zaymond. VERBOS, VERBETES, VERBORRAGIAS. São Paulo: Grupo Editorial Beco dos Poetas & Escritores Ltda., 2017.
 

 
Zaymond Zarondy
Enviado por Zaymond Zarondy em 01/04/2012
Reeditado em 20/05/2017
Código do texto: T3588486
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