A ESTRANHA
Chegou de mansinho, como quem nada quer
Aquele olhar seguro, de mulher para mulher
Que sabe a que vem e nada tem a temer
Que sabe que pode e faz por acontecer.
Foi então que compreendi o que queria dizer
Foram as minhas duvidas que veio responder
Uma a uma ela apontou sem medo de ofender
Conhecia bem tudo o que eu precisava saber.
Indagou até quando ao medo irei obedecer
Perguntou sobre os porquês de todo seu poder
De calar-me a voz, a vontade e o querer.
É preciso reagir e não deixar-se abater.
Chore, lamente, quão se permite enganar
Pelo ego enaltecido, inflado quase a estourar
Outras vezes ferido, disposto a tudo vingar
E sendo único culpado por assim se encontrar.
Tola, cega, surda e muda, se deixando dominar
Por emoções sem razão, por muitas mascaras usar,
Aprender como mentir, sem pudor por invejar,
Aprender como sorrir, e na mão o punhal ocultar,
Aprender como partir, mesmo querendo ficar,
Aprender como iludir, e disso até se orgulhar.
Conheci muitas pessoas, umas lindas, outras não,
Algumas passaram, nem lembro em qual estação
Será que chovia, estava frio, era primavera ou verão?
Porque não deixaram marcas? Nenhuma recordação
Como outras que muito fizeram sentir, foi tanta emoção
Que deixaram até cicatrizes dentro do coração.
Foram causa e conseqüência, enigma e solução
Foram vitória e derrota, conquista e perdição,
Foram sonho, magia, encanto, ardente paixão
Foram magoa, pesadelo, lagrimas, perdição...
Pessoas luz, pessoas amor, pessoas dor, escuridão.
E a estranha fez esse esboço de mim
Foi falando toda uma vida, quase perto do fim
Passada entre um engano e outro, assim...
Mostrou-me anjo-mulher, demônio-querubim
Perguntou porque continuo a agir enfim
Como se o não fosse mais forte que o sim.
Como se não gostasse em verdade, de mim.