Caronte, fantasma das óperas
Uma taça de vinho compartilhada
e se segue uma viagem guiada
para o submundo de mim.
Uma ópera cantada a dois,
que são um,
e o fantasma desta ópera,
guia-me para dentro.
Ah, o que há dentro de mim?
Podridão! Podridão! Podridão?!
Esterco é a nutrição das flores!
Sonhos mortos, sustentam novos!
Cante, enquanto apodrece,
corpo, ainda não-morto!
Nele, crescerá a rosa...
Cante, vida no submundo!
Cante e embriague ao barqueiro,
tinja o rio de vermelho-vinho,
floresça videiras nos infernos,
por sobre a nau.
Cante, que o vendaval levará
o canto a todos os recantos,
por sobre os sonhos assassinados,
apodrecidos, renascidos enfim!
Canto e por Eco,
ouço Perséfone a me acompanhar.
O barqueiro embriagado,
ri em êxtase.
Regeneração! Brinda ele com o vento.
Cante! Cante!
Traga êxtase para esta escuridão!
Grita, cada vez mais alto,
enquanto leva a barca,
cada vez mais fundo,
no submundo de mim.
Nota: escrito vendo cenas do filme "O Fantasma da Opera" e a música de mesmo nome. Não consegui deixar de associá-lo a Caronte, ao levar Cristine ao submundo da Opera numa gôndola. Depois, me perdi do vídeo e criei o meu próprio "vídeo mental", com o qual escrevi este pequeno poema em homenagem a essa obra-prima da Opera, do cinema e do teatro.