Quereria...

Quereria que a mulher de trinta e ‘poucos’ tivesse me visitado

aos quinze anos...

Que ela tivesse me dito que meu avô não duraria para sempre

E que outras pessoas também iriam embora

E eu nunca mais as veria...

Quereria que me contasse quem seria o homem

com quem eu me casaria

Que me dissesse quantos filhos eu teria

Quantos amigos novos eu faria

Quais amigos antigos permaneceriam

Quais decepções viriam

Quais alegrias surgiriam...

Que ela tivesse me dito quem seriam meus chefes

E me ensinado a lidar com eles...

Que me avisasse sobre os perigos que corria

Sobre os lugares que freqüentaria

Sobre os prêmios que receberia...

As viagens que faria

E os lugares onde moraria...

Quereria mais...

Que me dissesse quais sonhos se realizariam

Quais projetos vingariam...

Quais planos sobreviveriam...

Em quais jogos apostar...

E em quais não arriscar...

Quereria ainda que me indicasse os caminhos

Que me ensinasse as palavras certas

As horas certas, o jeito certo

As pessoas certas...

Quereria que ela me indicasse as leituras

Os filmes, as artes

Os poemas

As músicas

As palavras...

Que ela se mostrasse

Mostrasse seu rosto

Mostrasse seu corpo

Seus cabelos e seu sorriso...

Que ela me pegasse pelas mãos

E caminhasse comigo...

Porém, apenas quereria...

Pois se isso acontecesse

A mulher de trinta e poucos

Seria outra

Teria outras histórias, trilharia outros caminhos...

E isso...

Bem, isso eu jamais quereria...

(Adriana Luz)

Adriana Luz
Enviado por Adriana Luz em 25/01/2007
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