Como pode?
Como pode eu não ser mais o mesmo?
Nem eu, nem os seres
dessa vida cansada.
O que acontece-nos
nessa morada
cercada
de almas
destronadas?
Aff, tronos?
só se for de enganos
soberanos.
Como pode
mudarmos tanto
tanto, tanto, tanto
a ponto de ficarmos no engano
de achar que somos
seres singulares
nessa vida vivida
que no breve ai de um momento
é perdida?
Como pode
mudarmos nossa natureza
para que no fim de uma empresa
achar que somos
verdadeiros donos
do que pensamos?
Como pode
sermos metamorfoses
e até algozes
de nossas próprias vozes?
Mas mudamos
e a mudança é certa
quando se atesta
o que a natureza empresta.
Um dia devolveremos
a gentileza
da empresa
e perderemo-nos
sem noção
na anti-eternidade
de uma não mutação perpétua.