O Funeral do caçador
Ouça ao longe a trompa de caça,
e a triste orquestra que passa.
Os cães cabisbaixos e enlutados,
e os outros animais, enfileirados.
Eles arrastam por entre as árvores,
o corpo do caçador acabado.
Não mais respira nem corre,
deixou silenciosa sua espingarda.
À frente vão as codornas carpideiras,
abrindo caminho por entre a fauna.
Em seguida os cervos escandalosos,
chorando como nunca se viu no teatro.
As corujas observam de cima,
tirando conclusões que ficam melhores caladas.
Os ursos se aguentam como podem,
não revelando sua natureza de desagrado.
E os porcos carregam o esquife,
feito de galhos e cipós trançados.
A cotovia vai fazendo uma oração,
como se tivesse bebido demais
aquela água que passarinho não bebe.
As lebres estão impacientes,
com seu desconfiômetro aguçado.
Precisam logo encomendar a alma,
para que ela suba sem pagar pedágio.
E lá de longe, o tigre sempre atrasado,
vem com seu bumbo desajeitado,
marcando o passo da marcha ao abismo.
Todos parados em frente ao buraco.
O funeral terminou sua marcha.
A lebre recita meia dúzia de quadras.
Se Deus ouviu ou não, não importa.
Terminada a oração ela se mandou,
porque um caçador a menos,
não é garantia de não ser caçado.
E arremessado o corpo na ravina,
tudo voltou ao normal.
Salve-se quem puder porque a caça,
sempre continuará enquanto a fome,
este instinto de todo animal,
obrigar a todos ao assassinato moral.