UM DIA...

UM DIA

Carmen Fossari

Como, quem descobre

Um som que toca uma suave

Ária , possível de nascer,

Dos desafinados instrumentos

Guardados em porões seculares,

Agora Afinados ao som Diário ,

De uma Dialética tão necessária.

Como, mais que o espelho ao convexo do

Verso,no avesso atravesso uma rua

Fria deste inverno permanente de meu país.

Fecho uma vez mais meu coração

Para esta humilhante miséria de pobreza

Que se esparrama no leito da rua.

Abro agora, os olhos e estendo estas mãos tão

Frágeis de sombras que se perdem

Em tão absoluto labirinto de vaniedades.

Abro meu corpo achando possível

Esconder estas tatuagens circundantes

Cravadas a fome, frio , salário mínimo da

Inexistente consciência do ser ante o ter

Ter em tão poucas as mãos o tudo

Concentração de renda, que quero se reparta

Em partes, não nas costumeiras patas,

Protegidas pelas oficiais armas da dita lei e justiça

Dos ricos.

Encolhe-me, no meio da rua , repleta de negras mulheres

Brancas mulheres, todas a esmos sem teto,

Doloridas e indormidas deste país donde vivo.

Cravo em vergonha , o mais profundo esconderijo para este país

Brasilis (de tantos miseráveis e mínimos donatários)

..... e desprovida dos meus outros eus...

Saúdo a dialética , capaz de contar-me que ,

Isto

É apenas isto nem sequer é,

Porque há de ser superado

II

Como, a historia em conta gotas

Das rebeliões, tormentas e outros ventos

Isto há de ser o sido, o tido

O contido

Até as conchas do mar se tocadas abrem...

E por ti, por mim, por todos,

Os ponteiros dos relógios

Sinalizarão em linguagem das mãos

Tempos de mão a mão ,

de mãos, às mãos dos carinhos

Não retidos, mãos dos obreiros e dos abraços

Mãos do reparte em partes, mãos de nós mesmos

Rarefeitos de um ar livre, aonde ouviremos aquela ária

Secularmente trabalhada por obreiros

E, os instrumentos musicais

Desta diária e noturna Dialética

Farão brotar dos porões melodias

porque já será tão

sonoro viver...