CANÇÕES DO CLUBE DA ESQUINA
Tudo o que você podia ser, coração americano,
está guardado na curva de um rio.
Um rio de asfalto e gente
embolando pelas ladeiras,
entupindo o meio fio.
Enquanto um trem azul
parte numa nuvem cigana.
Enquanto um girassol da cor dos cabelos da mulher amada
cresce entre gerânios com gosto de cravo e canela.
Tudo o que você podia ser, coração americano,
está guardado em San Vicente
e o que era negro anoiteceu.
Não há saídas nem bandeiras,
apenas a eterna paisagem da janela
diante dos olhos de Lília.
Nada será como antes, coração americano,
bem sei que de tudo se faz canção,
inventa-se um cais sem oceano,
embarca-se em trem de doido
e dedica-se a canção ao que vai nascer.
Não há mais trem azul,
não há mais estrelas,
não há mais clube nem esquina,
nem cidade estrangeira,
Minas não há mais.
Só permanece vivo e latente, coração americano,
o belo acorde da canção da América.