PSIQUÊ CANINA
Santo protetor de animais domésticos, Santo Antão,
Seja honesto comigo e me diga a verdade então,
Estou desconfiada que eu esteja lelé da cuca.
Conscientemente eu sei que sou uma cadela.
Sem modéstia nenhuma, todos dizem que sou bela.
Peço ao senhor que me responda: eu estou maluca?
Não como mais osso. Para comer só recebo ração.
Dizem que o osso pode furar meu estomago, sei não!
Desde que eu me entenda realmente como ser canino,
Osso e carne são nossas comidas pra lá de prediletas.
Meus antepassados comiam deixando a barriguinha repleta.
Nunca fiquei sabendo que apresentassem problemas de intestino.
Os humanos que cuidam de mim dizem que são meus pais
E filho deles. Não entendo! Somos espécies diferentes de animais!
Se cruzarmos, não nascerá na terra nenhuma criatura.
Na vida real, o máximo que pode acontecer é transmitir
Para o outro alguma doença venérea. Essa estória de sair
Seres metade gente e animal só acontecem em literatura.
As religiões antigas também apresentava tal discrepância,
Porém, hoje, não há como acreditar nessa extravagância
Porque já ficou provado pela ciência que é mentira pura.
Outro dia, os humanos que cuidam de mim queriam me por
Uma roupa, isso mesmo, vestimenta de pano. Que horror!
Dizendo que era para eu ficar bonita para um passeio.
Atrás disso vieram laços na minha orelha, sapatos em minhas patas
E perfume. Senti-me ridícula dentro daquelas parafernálias autocratas.
Nenhum cachorro se aproximou de mim. Acharam-me um monstro, creio.
Santo Antão, o senhor acha mesmo que estou ficando biruta?
Por favor, socorra-me! Tira-me dessa situação absurdamente fajuta
Antes que a minha natureza animal tenha natureza humana como substituta.
O FILHO DA POETISA