Sacrificadas
cansadas e esfoladas, minhas letras
mostram-me faces ensanguentadas
era delas, a carne, entre meus dedos
vítimas dos meus desatinos, deliram
num transe entre a vida e a morte
ao sol de gelo, queimam suas feridas,
eram minhas todas as chagas
eram minhas todas as dores
e são elas, que sofrem e morrem...
se meus joelhos aqui estivessem
os dois, dobraria-os rumo ao chão
tal qual pétalas beijando mãos
mas já não me serve, a matéria
é da alma, o sacrifício da verve
a prece em busca das palavras...
um nada, abstrai-me, resta-me,
páginas em branco, nuas, choram
no vazio, minhas letras, enterro...