O CHEIRO DA VIDA
Cortando os ares longínquos das plantações
Ainda me chegam os cantos de tantos “birolos”,
Mas me alcançam, também, os cheiros de outras recordações:
De qualquer verde quando cortado e a casa da avó preparando bolos;
E minha mãe, agora na sepultura,
Carregava-me nos braços
Quando surpreendeu um ladrão derrubando latas de gordura!
Ainda trago o espesso cheiro daquilo que embrulhou o estômago
E engordurou por um tempo os nossos passos...
O cheiro inesquecível do curral
Dos maracujás da horta do Chico Preto
Um por um de cada abraço fraternal
Das lavouras lá pras bandas de Rio Preto!
Do berço, do abraço do meu Tio Derço...
Do lombo do cavalo, com meu pai, na volta do Carvoeiro,
Do cheiro da chuva na primeira molhada do terreiro!
Do cheiro do pêlo já roto d’um cachorro chamado piloto
Daquele odor que vinha do chiqueiro e/ou das galinhas do viveiro;
Que diferia do das que corriam pelo terreiro!
E, mais ainda, do das de pescoços destroncados
Com seus corpos recém tostados no braseiro!
Das frutas que minha mãe, entrecortando melodias,
Nos carreadores colhia e no bornal
Ou nas compridas mangas das roupas trazia,
...
Das outras mangas, das melancias...
Do cheiro de toda fruta tirada do pé;
Até do das borras das velas nas profissões de fé...
Do avental de minha avó que tanto me aninhava
Do mundo que ali me rodeava
Do banho tomado
Do bonito cheiro do cabelo das minhas irmãs
Do leite quente por minha mãe preparado
Do jambo, da carambola, da romã...
Do sol que trazia um cheiro na tarde amarelada,
Do outro que quando a pino, recendia crianças suadas...
Do orvalho da manhã,
Do cheiro do lápis, do novo caderno,
Da escola, da bola de capotão...
Do chapéu do meu avô materno;
O cheiro da pinga que vinha do garrafão...
Do mel, do vinho, do caminho,
Da estrada comprida;
Cheiros da minha vida...