O Canto da loba

O verso da loba.

Sei que estou velha,

das vistas curtas

as faces tão murchas

de tanto chorar.

Sei que singela

da cor de canela

o corpo macio

já não tenho mais.

Não sou tão ardente,

a dos tempos de outrora

a dos tempos de agora

já não te excita tanto.

Sou um tanto sombria

e até sem poesia

sem voz e sem canto.

Repousada, entretanto,

passo em linhas limpas

os versos antigos

página a página

como que em um diário

soltos ao vento.

E penso...

tudo foi tão breve

tudo foi tão efêmero

que valeu a pena

escrever a vida

pelas curvas do meu corpo.

Então me concentro...

e digo pra mim mesma

que agora

que tudo está no seu lugar

posso me divertir

e afirmar mim mesma

que sou especial

que sou já mulher

que sou já mulher

vou partir para o ataque.