A aranha
Entre o silêncio da noite de voz abafada,
Surge ao pensamento o enlace da mortalha,
Nada é singelo tudo se faz agudo
Pérfido sentido se faz mais que obtuso.
Do cenário estático povoado por lembranças
Tudo se faz tácito como o fim da esperança
Sua companhia devota-me um aracnídeo,
Pequeno e frágil, bem como o hominídeo.
Encara-me oito olhos todos eles de uma vez
Todos muitos sóbrios, transbordando sensatez.
Fita este ser que se prende a tua parede,
Vedes como o é sequioso por dizer-te.
Sabes quem sou eu, a tecer teia penosa?
Um pedaço seu, conferindo a estas cordas
Imagens que hoje não te resta a visão,
Sou eu parte de ti e me chamo solidão
Diz-me então de súbito, do alto de sua teia,
Não tens dá vida o júbilo, trazes dor em tua veia.
Voltando a tecer suas fibras ilusórias,
Onde rendilha as máculas da memória.
Rio de Janeiro, 27 de março de 2012.