TEMPOS E CONTRATEMPOS
Ontem, tempo não havia
A perder, nada ceder, apenas ganhar
Mero contratempo: o tempo para amar
Para dar-se a quem realmente valia
Grande desculpa essa, amarela
Na realidade, tempo sempre há
E também um imenso medo dela
Da desilusão, emoção que dá
Como perdido algo que nunca se teve
Sem sentido, totalmente irracional
Armadilha da mente que não se atreve
Talvez a deixar fluir o emocional
Hoje, a mim não mais me importa
A dor infligida, pois a mim concedida
Por mim mesmo, de maneira torta
Pois existe se por mim concebida
Ninguém tem esse poder
De fazer ao outro sofrer
A não ser eu mesmo a dar azo
E não ver tudo como aprendizado
Tudo isso faz parte da vida
O amor, a dor: saber viver
Eis a questão, a chave perdida
Eureka! antes de meu ódio tecer
Pois se assim procedesse, devo registrar
Teria eu totalmente esquecido daquele pai amigo
E de seu ensinamento sábio, nada pueril
A sempre e oportunamente replicar, índigo
"Viver é fácil; saber viver é que é difícil"
Viver sabendo que nada é para sempre
Nenhum amor, também nenhuma dor
Que tudo tem seu momento certo, entre
Bem há mal, entre mal há bem, mas há sempre cor
A dar significado a tudo, para tudo mesclar
"Carpe diem" : de tudo o melhor se aproveitar
Do fel ao mel, do regaço acolhedor daquela dama
Minutos antes jura "te ama", sabe-se lá quanta
Nossas vidas são como livros, nunca acabados
A cada dia páginas escritas, capítulos inteiros
Preenchidos retamente e bem delineados
Outras toscamente a preencher celeiros
Do que foi sem nunca ter sido cultivado
Do que é e nunca foi intensamente vivido
Do que é sentido e nunca é expressado
Do que tem início e parece nunca concluído
Livros, mais de um, não únicos, mas tomos
Tal Britannica , a vida de alguns se torna
Por terem sidos abençoados com muitos anos
De vida a preencher com erros, acertos, adorna
Semblantes de quem sofreu mas viveu
Não apenas germinou, cresceu e feneceu
Cumpriu todos os desígnios, não fugiu
Altivo seguiu em frente e a bondade distribuiu
Por norte, tentar incondicionalmente amar
De certo, tarefa árdua, quase impossível
A seres humanos, por isso imperfeitos, tentar
Ao menos isso, quem sabe um dia, menos risível
Por rumo, ainda, fazer sempre a todos o bem
Não importa se assim incomoda a alguém
Que não percebe nesta atitude uma medida além
Pois o retorno em seguida noutras vias retorna, vem
Não sou perfeito nem nunca serei
Não me enquadro em nenhuma quadra
Em nenhuma delas me enquadrarei
Pois por mais que tente, gauche ma vie ladra.
