JOIA BOREAL (PARTE IV)
Pobre e inocente criança, agora de toda a verdade sabedora
Abandona o leito e põe-se a correr, desorientada e confusa
Pelo labirinto da fria prisão submersa, sua morada assustadora
Cujas paredes a intervalos se movem em meio à treva profusa.
Por tal bruxedo o Feiticeiro a impedia de chegar a qualquer saída
E se porventura a infortunada chegasse um dia a encontrá-la
Ferozes serpes marinhas em torno nadavam, montando guarida
Para devorá-la antes mesmo que as águas pudessem afogá-la.
Exausta pelos esforços e consumida pelo medo implacável
De fracassar e assim condenar a si mesma e a tantos outros
A menina pára diante de ampla janela, a mirar o insondável
Oceano que a cerca, tão vasto como seus fundos desgostos.
Ela fita o punhal e pede inspiração à imagem da mãe amorosa
'Como encontrar o coração do bruxo, no pélago escuro perdido
Estando presa nesta masmorra de âmbar, esta toca pavorosa
A esperar pelo fim, através do suposto pai que é meu inimigo?'
Porém, detidamente a jovem examina o cabo da bela arma
Onde entalhadas estão figuras de sereias que parecem ninar
Assustador peixe, de feição tão horrível que a mente alarma
No lugar dos olhos, duas pedras brancas de incrível cintilar.
'As sereias!', Exclama com o semblante subitamente iluminado
'Seu cantar doma as feras mais ariscas, ao longe pude ouvi-lo
Um coro de vozes dolentes que amainam o monstro mais irado
Já fizeram adormecer as serpentes, num sono deveras tranquilo!
Uma delas, travessa, ousou uma vez aproximar-se do castelo
Cantando notou que as serpes fechavam os olhos enormes
À janela eu estava e encantei-me com seu aspecto tão belo
Ri ao vê-la com sua cauda a provocar as feras disformes!'
Continua...