Reflexo no espelho
Vestiu um vaporoso
Bordado de pingos que caíam das estrelas
O par de sapatos sobre o tapete
No meio do quarto suspirava
O sonho a entrar-lhe pelos saltos
Acendeu nos olhos as lamparinas da espera
No pulso uma pulseira de brancos, verdes e vermelhos cravejada
Nos lábios o leito da quimera
Fez cantar nas águas da fonte
A canção de todas as madrugadas
As notas eram pérolas
Descendo pelo peito inquieto
Pensou qualquer coisa
Uma nuvem calou pelos cantos as incertezas
Pintando nas paredes arabescos ton sur ton
O batom avermelhou os rastros dos queixumes
Conferiu na penteadeira a face da paixão inexplicável
E disse ao reflexo
Fuja daí
E não me dê conselhos
Eu não enganarei ao mundo
Como não o enganam os espelhos