Espaço
Sinto-me lá finalmente
Já tão infinitamente
Leve, já não tenho corpo
Não mais nenhum escopo
Minha missão termina
Posto nesta vastidão
Máxima esta solidão
Mais há, germina
Assim se premia
Quem bem semeia
Liberto enfim da teia
De medo e peso, fremia
Talvez por ser parte
D'algo maior, ínfima
Que seja, minha arte
Ora estelar, 'inda íntima
Tudo agora alcanço
Em mínimo esforço
Entendo tudo e todos
Mesmo se oculto em lodos
Sou puro pensamento
Total entendimento
Pleno desprendimento
Posto em firmamento
Sou música, acordes,
Versos, tintas, recortes
Revistas, livros, jornais
Filmes, agora em cartaz
Sem ossos, sangue, gordura
Em mim agora só perdura
Áureos sentimentos
Em todos os momentos
Nada mais terreno, carnal
Livre de tudo, d'era corporal
Outrora pensei, principal
Em que pese o mal
Que fiz, causei, sofri
Preso, assim restou
Jaz naquele corpo vil
Sete palmos, Ele o lançou
No infinito estou
Essência desnuda
Pura, foi o que ficou
Unida n'alma; à minha amada.