O apanhador.
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Nana meu sonho.
Nana que o mundo acordou e parece tranquilo.
Sei que parecer não é ser, não é o ser.
Mas para ser, meu sonho, é preciso o parecer.
Sinto, pois a reconhecer essas são as únicas aparências,
as aparências que a nossa história nos deixou.
Somos testemunhas de sua vastidão e de sua inquietude.
O tempo pertence ao mundo, então nana meu sonho,
mesmo que ele trave as nossas pernas,
mesmo que ele engula nossas melhores intenções,
mesmo que ele paralise nossos pequenos gestos de ambição, do tempo
descanse...
Amanhã será outro dia, trataremos sempre de criar novas personas,
novas máscaras sociais, as aceitáveis. Sim, eu prometo.
Nana meu sonho,
mesmo que a terra esteja gasta,
mesmo que tenham destroçado sua permanência,
e Pandora já não tenha mais caixas a revelar.
Descanse...
pois as estrelas ficaram mudas de repente...
As estradas são tão velozes! E todos estão chapados,
tentando apagar suas crises, tentando evitar os sinais de solidão.
Deita meu sonho,
sei que o solo está gasto e vejo daqui aviões,
mas nana meu sonho
que a viagem tem luzes e nenhuma escuridão
navegará em perigo por nós nesta noite de vigília e farol.
Nana meu sonho,
meu amigo de viagens e imagens,
meu amigo de bagagens submarinas.
Vai, dorme aceso e me avisa, que hei de deixar
a palavra guerra em total silêncio,
para deixar de vez nosso mundo em paz.
Não há surpresas de longe,
meu colo é noturno
e as ruas estão cobertas de carros.
O espelho de panos eu vesti,
pois me defendo dos raios e da amplidão.
Uso este meu pijama em desacertos,
limpo armas não usadas,
colo uns mosaicos no mapa do meu ano astral,
preencho de lacunas expectativas.
Assim minha loucura se aquieta,
quando a noite chega e me beija a face
e invade o jardim - o lá fora - de sentidos.
Amanhã terá flores a regar,
terra molhada de chuva,
crianças correndo entre os lençóis...
Nana meu bem, nana meu sonho
que a vida só - começou...
Patricia Porto