carta ao meu pai

trago notícias de longe, meu pai.

de um lugar onde o vento se esforça

pra chegar, e mal tem água pra lavar

as mãos.

nem luz elétrica tem. (já acostumei

a pegar no sono depois do sol cair)

moro entre duas velhinhas simpáticas:

a mentira e a morte.

uma,

vive a contar asneiras. finjo de bobo

pra ela não se irritar. às vezes, até

dou cabimento às suas histórias só de

maldade, mas já me acostumei com ela!

a outra, sabe, me parece maliciosa...

nossa relação é monossilábica e cheia

de sinais corporais, como se fossemos

dois surdos...

havia outra,

chamada esperança, mas morreu

de forma trágica: secou como uma rosa

de tanto esperar um par chamado amor.

por aqui, normalmente, não acontece

nada.

quem

quiser alguma coisa, que invente. eu,

inquieto que sou, resolvi aceitar os

conselhos do dono do único botequim

que existe pelas redondezas, um velho

de cabelos brancos e pernas cambotas

chamado sêo esquecimento,

e escrever essa cartinha para o senhor.

um beijo, meu pai.

cristovam melo
Enviado por cristovam melo em 22/03/2012
Código do texto: T3570175