O POETA E A CRIANÇA
Ser poeta é vagar buscando o nada
E encontrar quase tudo sem querer
Numa esquina a criança abandonada.
Colocar em sua vida um lindo verso
Exaltando a beleza da criança
Esquecendo este mundo tão perverso.
É sentar numa praça ao lado dela
E tentar esquecer tanta desgraça
E fazer da calçada passarela.
É fingir que ouve música e dançar
Co’ a criança com seu chapéu na mão
E com ela depois vai caminhar.
Numa igreja sentar e ali rezar
Pra que a virgem de Fátima lhe dê
A força de também dela cuidar.
E o poeta sonhando vai levar
A criança pra creche onde trabalha
Esperando o seu turno terminar.
E em seu quarto na creche vai deixar
A pequena criança que diz ter
Dez anos e não ter pra onde voltar.
E o sensível poeta então vai ter
O filho que não teve pra cuidar
E um poema, talvez, para escrever.
Rio de Janeiro, 18 de março de 2012
Benedita Azevedo