FALANDO DO TEMPO.
O tempo não gesta o que não é rebento,
nem destrava o que ainda não semeou.
Ele pouco conhece dos suores dos outros,
ele pouco entende das fronhas opacas da fé.
O tempo se enerva nas frases distantes da paixão,
ele sabe em quais portos deverei fincar meu chão,
ele sabe em quais bocas poderá despejar miinhas aflições.
O tempo caminha atracado nas vísceras nômades do meu sonho,
ele padece de gozo quando a luz se esconde do frio,
ele desvenda a minha morte sempre que o vento se descuidar.
O tempo se penca nos arcabouços calados do meu peito,
ele é fibra de aço quando preciso for,
ele faz dançar loucamente cada quinhão da minha alma.
O meu tempo é fiel às minhas tonturas, às minhas diabruras,
as minhas bêbadas ilusões.
Sei que irei desamordaçá-lo quando a dor não for mais dívida,
sei que terei que domá-lo sempre que meus ossos teimarem em fugir de mim.
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