Três meses
Por que o destino gira e empurra brincando ao acaso
E os uniu sob o signo de uma empresa de águas
E juntos eles fizeram a historia
As pequenas sagas
Daqueles que vieram de longe
Avizinhados as grandes cidades
Daqueles que já estavam próximos
Quase unidos aos leitos litorâneos
Areias e oceanos
Fuligem e carros em franco encontro
Por que viraram dias sob o sol
Como agricultores do mármore
Agarrados a enxadas sofrendo os rigores da labuta
Mergulhados em piadas e risos
Muitas historias
Aqueles que carregaram bandeiras e lixo
Toras areia e pedras igualmente insensíveis
Que almoçaram as mazelas controladas do péssimo cardápio
Presos as grades invisíveis da necessidade
Que observaram sonolentos o luzir das primeiras horas
Oriundos das suas noites de festas e de álcool
Ate de madrugadas de poesia
Caindo diretamente em manhãs de rotina
Que esperaram enfadados os desígnios de seus destinos
Sob a luz de superiores
Que fizeran-se convenientes aos olhos da multidão
E cantaram menininhas nas beiradas das piscinas
E no alto das rampas
Confiantes e certos senhores de sua própria capacidade
Que riram daqueles que pedalavam
E salvaram muitos dos sustos das águas
Que encontraran-se nas alturas de onde os alegres escorregavam
Que debateram nos dias de chuva esperando que o tempo passasse
Que contaram historias e mentiras que os outros fingiram acreditar
Aqueles que falaram de suas tristezas sob o olhar cinzento de nuvens tempestuosas
E que contaram em segredo sobre façanhas libidinosas
Aqueles que já foram ladrões, traficantes e viciados.
E aqueles que ainda são capoeiristas e poetas
Os loucos que fumaram suas baganas às escondidas
Atrás dos quiosques ou as margens turvas de um pequeno lago
Distantes das vistas dos outros
Etéreos como fantasmas
Os que sabiam dançar e se diziam professores
Sabiam foder e se mostravam orgulhosos
Presidiram o grêmio de foram príncipes
E os que escreviam historias
Que se mantinham em silêncios confusos
Ou metidos em leituras quaisquer que fossem
Que treinavam saltos e piruetas
Que se diziam exímios lutadores, mas não provavam.
Que contavam de facadas, mas não tinham cicatrizes.
Que sonharam com carangas e garotas
E só isto lês bastavam
Que cantavam jurando-se cantores
Que não tinham muitos amigos
Que formaram panelinhas
Que se procuravam
Que saiam juntos pras noites
Horas de doideras regadas a álcool e marijuana
Que recitavam versinhos sobre baganas
Contavam piadas sobre marrecos
Que dormiam sentados em qualquer lugar
Eram eles
Os que tinham seu próprio horror confesso
Que traziam os desafetos bem guardados em si
Que discutiam por besteiras
E elogiavam as colegas em segredo
Que foram barrados por falta de um boné
Que faltaram por que viajaram pelo prazer
Ou por que estavam adormecidos de embriagues
Que se alojaram em barracas sob a tutela de terceiros
Eram casados
Que chegavam de ônibus
Que moravam perto e gastavam alguns minutos de suas folgas
Contemplando o alto da torre
E perscrutando o futuro
Antecipando saudades
Foram eles
Que tramaram assaltos de mentira
E acharam engraçado
Que foram chutados e desafiados e se rebelaram
Que nadaram as escondidas
E bateram fotos
Que beijaram audaciosos e impunes
Que trataram de acampar e de barracas
Já se sentindo livres e distantes
Como folhas ao vento
Como gotas de chuva
Que jogaram futebol e conversa fora
Que beberam cervejas ou desejaram beber
Por que eram eles
Que se despediram entre olhares e apertos de Mao
Prometendo manter contato
Que trocaram telefones
Que marcaram lances pro rodeio
Que pensaram no inverno
Na volta
No emprego
E na saudade
E partiram
Se foram
Fazer parte do vento e das tempestades
Influir na vida de outros
Controlar o próprio destino
Se foram para no voltar
Quem sabe?
Quem não quer?
Sorridentes e pensativos
Brincalhões conscientes e resignados
Pelas ruas curtas
Pelas esquinas
Ate pararem trocarem olhares cumprimentos e despedidas
E partirem
Rumo ao resto de suas vidas.
Verão de 2000. um tempo inesquecivel.