Assim Morrem As Borboletas
Estremecem as catedrais nos entremeios do pranto
Desencanto que balança as almas do povo sofrido
A ausência de guarida despeja em muitas esquinas
Vidas desatinadasm na contramão dos percursos.
Recursos que se esgotam dos jarros da esperança
Destempero acidulado nas estradas decantadas
Encantos e desencantos, melancolia, dor e pranto
Choram anjos da guarda perdidos nas cabeceiras.
Descalços caminham meninos nas vielas espinhosas
Choram mães desesperadas do amor desenganadas
Pais perdidos no eu mesmo deixam os filhos a esmo
Carinho nem por esmola, mentiras que vidas isolam.
As meninas pintam a bocam se perfumam de alfazema
Precoces na baixa estatura, expostas a todas as agruras
Nas esquinas, becos e ruas entregam os corpos nuas
Geram vidas desvalidas para frequentarem novas luas.
Nem sempre as catedrais se prestam à prece ou fervor
De favor vivem os mendigos diante das portas cerradas
Ensandecida a verdade, cai nas valas do esquecimento
Tristes lamentos ouvidos dos homens no amor perdidos.
Escorados em muitos muros idosos se perdem do amor
Descoram os sonhos pintados, no papel cor de alegria
Rudes rabiscos adornam paisagens de afeto carentes
Sobram telefones mudos nas sisudas mesas vazias.
Nos jarros as flores mortas, explodem melancolia
Os porta-retratos quietos, com sorrisos cor de cinza
Riscam de giz lembranças na pureza das crianças
Esperança adormecida em muitas esquinas do cais.
Não existem vencedores na caminhada da estrada
Indiferente belas atrizes ou sedutoras meretrizes
Fato é que rasas covas, a todos acolhem no escuro
Morrem as borboletas antes de se abrirem os casulos.
(Ana Stoppa)