Poema sem voz

Semeia as tuas palavras

pequenos grãos

de uma poesia

tão só

tão tua

soando

a silêncio

de uns olhos castanhos

esverdeados

Ausentes

Noturnos

Ígneos

Amoráveis

Lindos

Estetas

Prismas

Poéticos

nuas

e úmidas

as palavras

matam

nossa sede

pendendo

uma

a

uma

na espuma

da nossa ânsia

onde

o tempo

cai

sem resposta

o

silêncio

a cor

o acaso

entendem

o que eu não sei

te dizer

o abraço

singelo

e premente

que não te dei

o beijo

que se perdeu

nos campos

ingênuos

para além do rio

e do labirinto

inquieto

das lembranças

na tua cama

o silêncio

infindo

é

um poema

manuscrito

no teu corpo

não declamado

sem voz

um poema

que ficou

ecoando

no grito inócuo

ecoando

nos espelhos quebrados

do dia a dia

que nos traduzirá

dentro em breve

dizendo

o reflexo

aflito

do quanto não somos

inacessíveis

que estamos

à nossa irredutível

evanescência

angelical

Poetisa, lança teu poema à terra

deita teus olhos entre as estrelas

esvazia a tua taça

e embebeda de sonhos

a tua alma menina

Dá-me teu pé

para o beijo

disse à flor o jardim

flertando

com a incompletude

da evolação

da vida

e seu velho tema