Em circulo

Eu que nunca escapei de todo do vale das sombras

Que nunca escolhi com segurança meus próprios caminhos

Escravo de pesos duradouros

Amarras que não rompem nem afrouxam

Atrelado à longa carreta das memórias e fracassos

Daqueles dias de Silvino e Otavio

Das risadas

Das fezes e urina

Episódios que ninguém esquece

Tantos olhares

Suas perseguições nas ruas

Éramos todos ferozes

Socos na ladeira perto da casa

Humilhações na barranca de terra vermelha

Tantas coisas escondidas

Meus anseios e sombras

Meus pedaços molhados de lagrimas

O ódio da menina da terceira carteira

Tanto medo sob o domínio de “J”

Sob todos os domínios muito medo

Exagero impróprio de golpes contra a garota

Amores guardados no peito jamais revelados

Vergonha patética e punhetas desde cedo

Segredos eróticos

Os seios de “R”

O corpo de uma prima

Um roçar levemente proibido

As confusões no oito de setembro

Vontade de ser melhor

Fracassos diurnos e noturnos

Thais... Perdas!

Uma chara... Revelações

Vidas perdidas no bairro

Garrafas de vinho e cheiro de maconha

E mentiras

Invejas

Como um vilão de historias em quadrinhos

Como os “mandinhos” ruminando nas ruas

Como “PD” mancando de balas

Ou besouro cambaleando de álcool

Improvável como as musicas de Afrânio

Fantasioso como as vontades nunca atendidas do órfão de pai

Minhas virtudes apagadas como a fraca beleza das duas irmãs

Poesia frágil como a saúde dos velhos

Historias nunca lidas

Desconhecidas como as virtudes da ex-mulher do velho

Nossas existências cruzando-ce nos corredores das fabricas

E nas ruas do bairro brigas e roubos

Historias... todas mais aterradoras que os contos de Poe

Mais reais

Jogos as quintas à tarde aos sábados e domingos

Sinuca a qualquer hora

Habitantes dos bares

Velhos bêbados

Mulheres vadias

Viciados e traficantes

Todos os acontecimentos concentrados em volta das mesas

Desafetos e cobiças

Espancamentos e vinganças

Juras, facões cortes e rasgos.

Sangue impuro contaminando a terra

Jovens demais cavalgando a fumaça

Perdidos e inúteis

Perto do limbo

E sob as montanhas

Às vezes corpos e pés da planta proibida

Enfastiados e enegrecidos de manchas

Ilegais trazendo nas costas o produto de suas caçadas noturnas

Safares urbanos na África das residências descuidadas

Musicas medíocres e suas canções sujas

Melodias poluídas

O melodrama dos que se perderam

“K” e os outros como satélites elevando-se sobre a imundície dos sem futuro

Caixas de cerveja e CDs piratas

Trouxinhas de pó e festas improvisadas

Cemitérios ao cair da tarde

Fotos sob a débil luz da aurora

Livros e imagens místicas

Conversas antediluvianas sobre os antigos senhores

Aspirantes a bruxos modernos

Algumas lâminas

Velhos manuscritos

Boatos de desova da carne e animalismos

Mães desnaturadas

Bebes mal cuidados

Noites longas e boemias regadas a cervejas e vomito

Longas noites aquelas

Longos dias

E tudo segue.

Para "R.D" que sempre soube que um dia eu contaria estas historias.